O primeiro capítulo tinha umas cinco páginas, só. Ainda Bem. Comecei a ler quando subi no ônibus, cheiro de manha misturado com fumaça e um perfume enjoativo que uma cara-de-aeromoça vestia. Não demoraria pra descer na diagonal do prédio em que trabalho, se o motorista colaborasse, mas não acabava a porcaria do capítulo.
Essas situações são angustiantes. Se você corre na leitura, talvez perca alguns detalhes que diferenciam aquele autor de um texto sobre como motivar pessoas e salvar sua empresa. Assim é a literatura, a namorada/amiga/conhecida que cortou o cabelo e ai de você se não reparar.
Mais uma página, quase lá. Menos duas paradas, quase lá. Acabei, que livro legal, acho que não perdi muita coisa. Fechei o primeiro capítulo duas paradas antes da que desceria, me senti um tanto desesperado, que nem quando um carro está longe na rua e você corre, corre como se estivesse gritando em voz fina com o corpo, mas ele não ia bater afinal, bicha.
Puxei a cordinha, não fazia barulho. Quando puxo a cordinha e ela não faz barulho, realmente me desespero, nunca sei quando é um defeito ou alguma estratégia tecnológica pra não abalar a paciência quase sempre muito abalada dos motoristas de ônibus.
Achou que funcionou, ele parou bem antes da parada e abriu a porta. Início da Almirante, longe do primeiro sinal. Na primeira pista, de ida, não passava carro nenhum. Corri. O sinal da pista de lá abriu, uma correnteza de carros e de bicicletas.
Enquanto passavam, pensei nas diversas formas que poderia pular aquela cerquinha da ciclovia. Um mortal pra trás, carpado. Terminar dançando Brasileirinha em plena Almirante. Zombando das high ways da vida e de toda sua brutalidade.
Fechou o sinal, corri, pulei. Porra, meu pai que desequilibra toda vez que levanta do sofá fazia melhor. Ainda tentei levantar a perna enquanto caia, não sei pra quê, quem eu queria enganar
Segunda-feira. 8h10. Vai ter feriado no final da semana, viagens, aventuras juvenis como as do livro que lia. Putz, depois desse pulo, tenho certeza: vou com certeza passá-lo comendo brigadeiro em casa, vendo comédia romântica e chorando da trilha sonora que é tão bonitinha e deprimente. È isso que te espera, seu culhão medroso de merda.
Granado meio Bukowiski